“O sistema de saúde do futuro não pode esperar que o doente chegue ao hospital, é o sistema de saúde que deve ir ao encontro do cidadão”, afirma Sérgio Azevedo, diretor do Serviço de Oftalmologia da ULSAM. Nesse sentido, considera que a interligação desta especialidade com os cuidados primários é “um pilar fundamental da estratégia para a saúde da visão”.
Em declarações à Just News, sublinha que “os benefícios são evidentes, pois promove a equidade, os cuidados de proximidade, a prevenção e consequentemente a sustentabilidade”. Mas não só.
“Reorganiza o sistema em função das necessidades dos doentes, liberta as infraestruturas hospitalares sobrelotadas para os cuidados mais diferenciados, aumenta os postos de trabalho sem interferir nas infraestruturas hospitalares cronicamente subdimensionadas, promove a integração de cuidados e a interação com os colegas dos cuidados de saúde primários.”

Cultura inclusiva
Segundo Sérgio Azevedo, o facto de uma especialidade médica, neste caso a Oftalmologia, ter promovido um debate cujo foco foi debater a sua própria gestão no contexto do SNS é algo que merece ser replicado:
“Esperamos que este projeto se possa perpetuar no tempo, e possa ser adotado por outras especialidades. Será mais uma demonstração de que este é o caminho certo, não só para a oftalmologia, mas para qualquer especialidade, e para o SNS de uma forma global. O I OFTALGEST constitui o primeiro passo em direção a uma nova cultura.”
Para o responsável pelo OFTALGEST, trata-se de uma cultura que promove a “integração de conhecimentos entre clínicos e gestores, que envolve todos os intervenientes do processo de decisão, que integram as perspetivas de clínicos, administradores e políticos numa única perspetiva macro, num processo de construção continuo para uma visão que resulte em mais valias para o nosso sistema de saúde, para os que o compõem, e fundamentalmente para aqueles que dele necessitam, que são os nossos doentes”.

De acordo com Sérgio Azevedo, o facto do evento ter contado com a “adesão de direções de serviço e conselhos de administração de todo o país”, mas também com a representação do Ministério da Saúde, ACSS, administrações regionais de Saúde, Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares, Colégio de Oftalmologia e Sociedade Portuguesa de Oftalmologia, foi muito significativo. Na sua opinião, “esta aesão revela interesse, reflete a importância da iniciativa, credibiliza o conceito e redimensiona o projeto para um patamar nunca antes visto”.
Sérgio Avezedo adianta ainda que na reunião foram também criados “grupos de trabalho multidisciplinares que incluem oftalmologistas, administradores e outras entidades, dirigidos a áreas específicas da oftalmologia”. O propósito é claro: “Para que se estudem soluções alternativas, e apontem linhas estratégicas clínicas, organizacionais e financeiras, que constituam uma mais valia para o SNS e para os doentes. Esta é a missão do OFTALGEST.”

Conclusões do I Oftalgest
E quais as principais conclusões a tirar desta 1.ª edição do Oftalgest? Para Sérgio Azevedo, e antes de mais, “foi possível concluir que este é o formato certo. Este é o formato indicado para se pensar saúde”.
Considera que “foi envolvendo todos os intervenientes, abordando os problemas de forma abrangente, integrando todas as suas dimensões, clínica organizacional, e financeira” que se conseguiu atingir os objetivos propostos.
Não tem, assim, qualquer dúvida: “Esta é a cultura que devemos promover na defesa do nosso sistema de saúde, e que os participantes enalteceram. Todos ansiavam por este formato, mesmo antes de o conhecerem.”
A segunda conclusão é o “reconhecimento consensual da importância da oftalmologia” e recorda que esta é “a especialidade com maior atividade assistencial no SNS, e consequentemente a mais importante no financiamento das instituições hospitalares. Assume-se também como especialidade com maior potencial no processo de evolução do sistema de saúde.”

Sérgio Azevedo destaca ainda “vários os temas que ganharam relevância no debate”:
1. A falta de autonomia dos hospitais dificulta a resolução dos problemas em tempo útil, obriga a despesas desnecessárias, e resulta em desperdício.
2. A progressiva perda de competitividade do SNS, nomeadamente nesta especialidade, que resulta na saída de profissionais para outros mercados, pondo em causa o acesso dos doentes, a qualidade dos cuidados prestados, e o futuro da formação. As causas são múltiplas e devem ser encaradas com seriedade.
3. A necessidade de fazermos a transição da medicina curativa para a medicina preventiva, promovendo atividades de rastreio e despistes de determinadas patologias, envolvendo os cidadãos, a literacia em saúde e a disease awareness, resultando em maiores ganhos em saúde, valor para o doente e maior sustentabilidade.
4. As atuais modalidades de financiamento baseadas em volume de atos, estimulam a produção dos mesmos, não considerando os resultados obtidos ou o valor que daí resulta para os doentes, e devem por isso ser reformuladas.
Quanto ao futuro do Oftalgest, Sérgio Azevedo adianta que está já assegurada uma 2.ª edição, a realizar-se em 2023.
Fonte: JustNews